Nos últimos 14 anos, religiosamente, em Setembro, dedico uns dias de férias ao MOTELx. Este ano, pensei que, por causa do COVID, o Festival não se iria realizar, mas ainda bem que me enganei. Infelizmente, não pude pôr uns dias de férias, mas mesmo assim não deixei de ir praticamente todas as noites ao Festival.
Cada vez mais o género Terror vai abrindo as suas fronteiras, abrangendo os mais diversos temas e explorando-os de formas que os outros géneros não fazem. O Terror sempre serviu para experimentações, para esticar os limites do que pode ser mostrado, para provocar o público, sempre debaixo da “desculpa” que é tudo uma fantasia, sendo também território de estreia para muitos realizadores e actores.
Este ano, a lista de filmes variou, entre outras coisas, pelo sobrenatural, os monstros, o terror psicológico, o racismo e a ficção científica. Sem me alongar mais, aqui fica a minha opinião sobre os filmes que vi.
AMULET de Romola Garai – 4
Um ex-soldado que vive como um mendigo nas ruas de Londres, é escolhido por uma freira para ajudar uma pobre jovem que cuida sozinha da sua mãe moribunda, mas algo de sinistro se passa com a mãe dela.
Para a sua estreia como realizadora, a actriz Romolo Garai dá-nos um filme carregado de ambiente, muito estranho e que termina em pirosice. O elenco não é mau, principalmente a pequena grande Imelda Staunton como a freira. Quem apresentou o filme no Festival tinha razão, por vezes faz lembrar o cinema de Roman Polanski e do Ken Russell, mas a comparação não lhe é favorável.
ANTEBELLUM de Gerard Bush & Christopher Renz – 7
Veronica é uma autora de sucesso e defensora dos direitos dos negros. Isso leva a que seja escolhido por uns racistas ricalhaços para a sua plantação de escravos. É nessa realidade paralela que ela vai ter que lutar pela sua sobrevivência.
Imagino que este filme vai ter o efeito de bomba nos Estados Unidos, com a forma como mostra o racismo de que os negros ainda sofrem nas mãos de sulistas racistas que simplesmente os odeiam. Mais drama que filme de terror, aqui os medos são reais e é chocante a forma como os negros são tratados nesta pseudo plantação. Claro que somos manipulados a estar do lado de Veronica e não há mal nenhum nisso. A história, com as suas reviravoltas, prende-nos ao écran e o clímax é eficaz. No papel de Veronica, Janelle Monâe revela-se uma excelente atriz e deu-me um enorme gozo odiar a personagem interpretada por Jena Malone. Nos tempos que correm, não me admirava que a história do filme pudesse ser uma assustadora realidade. A ver!
LLORONA, LA de Jayro Bustamante – 3
Guatemala. Um ditador paranoico fecha-se na sua mansão com a sua família e criadagem, enquanto cá fora o povo exige o seu castigo. Dentro da mansão, uma nova criada não é o que parece e os crimes do ditador não irão ficar impunes.
O mito da “Llorona” está de volta, desta vez resultando mais num drama do que num filme de terror. O ritmo é lento e pouca coisa acontece, mas o final tem algumas surpresas que me agradaram, sem, no entanto, salvarem o filme para mim.
MALASAÑA 32 de Albert Pintó – 6
Uma família muda-se para um apartamento na cidade e depressa descobre que este está assombrado e que a vida de todos corre perigo de morte.
O ambiente está cá todo, os calafrios e os sustos funcionam. Tem suspense quanto baste e a história é interessante. Pena que o final seja exagerado e que o elenco, principalmente o masculino, não me convenceu. Mas o filme cumpre as suas funções no campo do terror.
PSYCHO GOREMAN de Steven Kostanski – 3
Dois irmãos ressuscitam, sem querer, uma criatura extra-terrestre que quer matar toda a gente. Felizmente, a miúda tem em seu poder um amuleto que lhe permite controlar a criatura, mas...
Há uns anos vi no MOTELX o filme THE VOID, do mesmo realizador e foi uma agradável surpresa, daí estar muito entusiasmado com este seu novo filme. Infelizmente, apesar da ideia ser engraçada, o resultado é uma série Z que depressa perde a graça, mesmo com os exageros de gore. O facto de a miúda ser insuportável e o elenco ser fraquito também não ajuda. Tem a seu favor uma criatura interessante, mas isso não chega para mim. Quem sabe, talvez se venha a tornar um filme de culto.
RELIC de Natalie Erika James – 7
Mãe e filha regressam a casa da avó, pois esta desapareceu sem deixar rasto. Uns dias depois reaparece, mas está estranha, a sua demência parece estar a consumi-la.
E se a demência fosse algo de físico? Se fosse uma coisa negra como o bolor, que se vai espalhando pelo nosso corpo e pelo local onde vivemos? É essa a pergunta que este tenso drama psicológico nos propõe. Em ambiente de casa assombrada, as protagonistas vão enfrentando uma espécie de mal hereditário e lidando com a velhice da avó. Três excelentes actrizes dão credibilidade às suas personagens e este foi, para mim, um dos filmes mais fortes do Festival. A não perder!
SAINT MAUD de Rose Glass – 7
Maud, uma jovem enfermeira com uma grande ligação a Deus, vai cuidar de uma bailarina debilitada e sente que, custe o que custar, tem que salvar a alma da sua paciente.
Mais um filme de terror psicológico, aqui de grande religiosidade e loucura. Maud (uma fantástica M;orfydd Clark) acredita piamente que Deus fala com ela e esta sua loucura deturpa a realidade que a envolve, com resultados dramáticos para todos. Rose Glass, a realizadora, mantém a tensão do início ao fim e a sua escolha de nos contar a história pelos olhos de Maud foi acertada. Como a bailarina, Jennifer Ehle está óptima e o duelo dela com Maud sabe a pouco. E pensar que há gente maluca como a Maud por aí à solta! A última cena é muito forte, sem ser gratuita.
SPUTNIK de Egor Abramenko – 4
Ao regressar do espaço, um astronauta traz, dentro de si, uma criatura que adora cabeças humanas, e cabe a uma cientista perceber como poderá separar os dois, sem que nenhum morra.
Da Estónia chega um filme que mistura terror e ficção científica, na linha de títulos como ALIEN e SPECIES. Até achei a história interessante e o elenco convincente, mas o ritmo é lento e o filme estica-se por quase duas horas. Não havia necessidade. Os maus da fita são mesmo maus, a heroína podia ser mais forte e o pobre do astronauta tem uma séria decisão a tomar; quanto à criatura, gostei dela e do seu apetite voraz.
TEDDY de Ludovic & Zoran Bourkherma - 5
Na França rural, um jovem é mordido por um animal e começa a sentir transformações no seu corpo. Entretanto, algo anda a matar as ovelhas da região.
Esta espécie de AN AMERICAN WEREWOLF IN LONDON tem alguma graça, principalmente porque tem um protagonista que não se leva a série e com uma linguagem muito colorida. A galeria de secundários é também muito caricatural, dando ao filme um ar meio desajeitado onde faz sentido existir um lobisomem. No entanto, o filme peca um bocado por não se decidir se quer ser uma verdadeira comédia ou um filme de terror, acabando por não ser nenhuma das coisas. Mas tem os seus momentos e não é chato.
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