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Thursday, June 20, 2013

O REMOINHO de Jorge Tomé Santos


Desci pela encosta do monte e vi-me num lugar de sonho. Há minha frente uma grande extensão de areia, que brilhava com o luar, separava-me do mar. Este com toda a sua força e mistério parecia chamar-me. Sobre tudo isto uma abóbada de estrelas brilhantes e uma magnífica lua cheia.

Esqueci-me de tudo o resto e caminhei até à beira-mar. Aí as ondas explodiam em milhões de bolas de espuma, provocando uma doce e repousante melodia. Sentei-me na areia e por momentos deixei-me embalar pela música do mar e pelo sussurro do vento. Estive assim alguns minutos e depois devo ter adormecido.

Acordei algum tempo depois e apercebi-me que o meu relógio havia parado. Pelas horas que marcava, calculei que isso tivesse acontecido pouco depois de ali ter chegado. Não dei muita importância ao facto e levantei-me. Preparava-me para me vir embora quando ouvi um barulho ensurdecedor vindo do mar. Virei-me e vi que, não muito longe da praia, um enorme remoinho se formava. Não lhe prestei muita atenção e retomei o meu caminho de regresso.

Enquanto subia a encosta fui observando as diversas constelações estrelares, pensando se algures num planeta distante algum ser estaria a fazer o mesmo. Num impulso acenei às estrelas, rindo-me depois da minha infantilidade. Era bom ainda ser capaz sonhar com seres maravilhosos e civilizações distantes.

Atrás de mim o barulho havia aumentado de intensidade e, com um pouco de receio, olhei para o remoinho. Nunca mais me esquecerei do que senti ao fazê-lo. Este havia aumentado de dimensão e o seu interior era tão negro que nem o luar o conseguia penetrar. O pior de tudo é que este movimentava-se em direcção à areia. Tremia de medo mas a minha curiosidade era maior e, assim, voltei a descer a encosta regressando ao local onde antes havia adormecido. Quanto mais me aproximava mais intenso era o barulho, ao ponto de deixar de ouvir tudo o resto.

Por fim o remoinho chegou à areia e parecia devorá-la, mas subitamente parou toda a sua actividade. Visto de perto era um autêntico buraco negro rodeado de água por um lado e areia pelo outro. Não ousei aproximar-me mais. Passados uns minutos ouvi ruídos no seu interior e pouco depois saiu algo de dentro dele.

Como explicar a horrível criatura que de lá saiu? Não era parecido com nada que tivesse visto antes e acredito que não fosse terrena. Era mais parecida com uma massa disforme do que com qualquer outra coisa. A sua cor não era conhecida no nosso planeta. No meio daquela coisa havia um buraco negro, que penso fosse a boca, donde saía um odor pestilento. Quando me apercebi do seu intuito era tarde de mais. Senti-me transportar nuns viscosos tentáculos invisíveis e pouco depois fui lançado naquele nojento buraco negro.

Abri os olhos e descobri que estava na tranquilidade do meu quarto. Tudo havia sido um horrível pesadelo. Alguém bateu-me à porta, saí da cama e abri-a. Do outro lado esperava-me apenas a escuridão e um odor pestilento. Tranquei a porta e saltei para a minha cama. Mas a escuridão infiltrava-se por debaixo da porta e pouco depois vi-me rodeado por ela. Perdi a consciência e o corpo. Quando recuperei a primeira estava provocando um remoinho no meio do mar. Através dos meus muitos olhos vi um homem olhar estarrecido para mim enquanto eu saía de dentro do remoinho, pouco depois ele era lançado no interior do meu buraco negro.   

  

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