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Monday, February 27, 2017

MOTELx 2016: UMA CRÓNICA TARDIA

Desde que me lembro que sou apaixonado por cinema e, dentro deste, por dois géneros em particular, o Musical e o Terror. Sim, eu sei que aparentemente não têm nada a ver um com o outro, mas pensem outra vez; ambos lidam com situações que pouco têm a ver com a realidade. Ou seja, ambos são puro escapismo.

Quando eu era jovem, o cinema de Terror não era um género muito prolifero nos nossos cinemas, situação não muito diferente do que se passa hoje em dia (se não for pior). Nas décadas de 70 e 80, havia algumas salas em Lisboa onde o género marcava presença mais ou menos regular; refiro-me ao Politeama, Éden, Odéon e, principalmente o Xenon. Nessa altura ainda não havia internet (sim, eu vivi a minha adolescência sem internet e sem telemóvel e sobrevivi) e a explosão do vídeo estava a começar.

Imaginem o quanto eu me “babava” a ler revistas como a FAMOUS MONSTERS e, mais tarde, a FANGORIA, e sonhava em ver os filmes de que elas falavam. Infelizmente, só meia-dúzia deles é que cá chegavam e por vezes com anos de atraso (recordo-me de ver o cartaz do THE INCREDIBLE MELTING MAN no Éden e esperar mais de um ano para que ele finalmente estreasse).

Em 1981, no Porto, nasce o Fantasporto e eu só desejei viver nessa cidade para poder ver os filmes que por lá passavam. Felizmente, durante dois ou três anos, uma pequena seleção desse Festival chegou a Lisboa e, mais tarde, fui dois anos consecutivos ao Porto, especialmente para ir ao Fantas. Mas depois a programação começou a ser mais generalizada, com o cinema de Terror a ter menos peso e deixei de ir.

Imaginem a minha surpresa quando, em 2007, nasce em Lisboa o MOTELx. Finalmente, tinha perto de mim algo porque sempre havia sonhado. Um Festival de cinema dedicado exclusivamente ao Terror. Só tenho pena de não ser mais novo e ter disponibilidade para me juntar aos voluntários que têm ajudado este Festival a crescer e a ser o acontecimento cultural que é.

Até parece mentira que o ano passado, o MOTELx celebrou a sua 10ª Edição e, mais uma vez, lá estive para ver alguns dos muitos filmes que por lá passaram. Assim, se bem que por esta altura já é irrelevante, aqui vos deixo a minha breve opinião sobre alguns dos filmes que por lá passaram. Só espero que não seja demasiado tarde para esta minha crónica, pois a 11ª Edição é já em Setembro.

BASKIN de Can Evrenol – Um grupo de polícias é chamado de emergência a um edifício abandonado, onde um estranho culto parece ter aberto as portas do inferno. Talvez um dos filmes mais fortes do Festival, que me fez lembrar o universo de Clive Barker e a atmosfera pegajosa dos filmes de Lucio Fulci. Nem tudo o que se passa é muito claro, confesso que para mim chega a ser confuso, mas o realizador capta a nossa atenção e dá-nos imagens verdadeiramente infernais. Não recomendo aos fracos de estômago. Classificação: 6



CANNIBAL HOLOCAUST de Ruggero Deodato – Uma equipa de filmagens desaparece sem resto na Amazónia e cabe ao Professor Monroe liderar uma missão de salvamento, mas só encontram as bobinas do material filmado. Muito antes do THE BLAIR WITCH PROJECT, Ruggero Dedodato convenceu o mundo que as cenas de violência e canibalismo faziam parte de um documentário verdadeiro. O resultado gerou polémica (principalmente as cenas com os animais) e tornou o filme num clássico deste género particular. Vi-o quando estreou em Lisboa no cinema Politeama (sim, já não sou nenhum jovem) e na altura lembro-me de achar que os actores eram maus, mas que os efeitos especiais eram muito realistas, mais do que qualquer CGI actual. Mais que um filme, é uma experiência e, o aviso na estreia de que “este filme contém cenas eventualmente chocantes” era a sério; a evitar pelos fracos de coração e estômago. Classificação: 4




DON’T BREATHE de Fede Alvarez – Este intenso thriller de terror teve a honra de inaugurar o Festival dias antes de estrear no nosso circuito comercial (um dos poucos a ter essa sorte). Sobre este filme escrevi uma “crítica” mais detalhada, que podem ler clicando aqui. Classificação: 7


THE INERASABLE (Zan'e: Sunde Wa Ikenai Heya) de Yoshihiro Nakamura – Uma autora de livros de terror tenta ajudar uma jovem estudante a desvendar o mistério por detrás das pessoas que viveram no apartamento desta e que parecem assombrar o mesmo. Como é hábito nos filmes de terror japoneses, tudo começa lentamente e, aos poucos e poucos, conforme se vai desvendando o mistério, os acontecimentos vão tornando-se mais tenebrosos. Infelizmente, apesar da eficiente atmosfera, os calafrios nunca chegam a atingir o clímax que eu desejava. Classificação: 4


K-SHOP de Dan Pringle – Este Sweeney Todd da era do fast-food, conta-nos a história do jovem Salah, que após a morte do pai ser provocada por um grupo de rufias, decide transformar os clientes mais indesejáveis do seu pequeno restaurante em carne para “kebabs”. Supostamente, as cenas de rua que mostram a degradação da juventude local, que o realizador nos mostra são reais, os que as torna no elemento mais assustador deste thriller de terror. O resto é uma trivial história tipo JUSTICEIRO DA NOITE, que se segue sem sobressaltos ou surpresas. Depois de ver este filme nunca mais olhei para os “kebabs” da mesma maneira. Classificação: 4


THE MASTER CLEANSE de Bobby Miller – Um homem, cuja vida está uma lástima, inscreve-se num retiro espiritual a fim de “limpar” a sua alma; depressa percebe que a limpeza da alma dá vida a uma estranha criatura. Sem dúvida um dos filmes mais estranhos que vi no MOTELx, esta comédia com contornos de terror tem a seu favor um excelente elenco, do qual tenho que destacar Anjelica Huston. Mas, claro que um bom elenco não salva um filme e o facto do realizador não se decidir se quer que esta espécie de IT’S ALIVE seja mais cómico que assustador, desiquilibra o resultado final. Mas uma coisa eu sei, fiquei muito desconfiado dos ditos retiros espirituais. Classificação: 4


THE NOONDAY WITCH (Polednice) de Jiri Sádek – Uma jovem viúva e a sua pequena filha mudam-se para uma aldeia, onde o calor intenso e uma velha lenda começam a transtornar a sua relação. Não é muito comum termos filmes de terror filmados à luz do dia, mas o realizador consegue transformar a paisagem serena dos milharais dourados em algo de sinistro. A presença sobrenatural que se faz sentir pode ou não ser real, mas as consequências da mesma prenderam-me à cadeira. O bom elenco também ajuda. Dos filmes nomeados para “Prémio Melhor Longa Europeia” que vi, este era o meu preferido. Classificação: 6


THE PURGE: ELECTION YEAR de James DeMonaco – A “noite de purga” está de volta e desta vez cabe ao antigo sargento Leo Barnes proteger a candidata à presidência dos Estados Unidos, o alvo preferido de todos os que não querem que a “noite de purga” acabe. É raro, mas acontece, o terceiro capítulo desta série é o melhor dos três filmes. Tenso, com o ritmo certo e uma alucinante dose de loucura, prendeu-me à cadeira e fez-me preocupar pelos seus personagens. Numa altura em que Donald Trump está no poder, é assustador imaginar que o cenário deste filme poderia tornar-se uma realidade. Classificação: 7


31 de Rob Zombie – De todos os filmes que passaram no MOTELx deste ano e que eu vi, este foi decididamente o pior. Claro que sou suspeito, pois ainda está para vir um filme do Rob Ziombie que eu goste. Sobre este filme escrevi uma “crítica” mais detalhada, que podem ler clicando aqui. Classificação: 1


UNDER THE SHADOW de Babak Anvari – Teerão 1988: uma bomba caí dentro de um edifício de apartamentos sem explodir, no entanto, algo de malévolo veio com a mesma, ameaçando a pequena filha de Shideh, uma mulher que se vê obrigada a enfrentar as forças do mal a fim de a salvar. Lembram-se do THE BABADOOK? Pois esta realização de Babak Anvari (que tem aqui uma auspiciosa estreia nas longas-metragens) assemelha-se em certos aspectos a esse filme, com resultados capazes de provocar calafrios aos mais fortes. Este foi sem dúvida uma das grandes surpresas do último MOTELx e um filme que recomendo a todos os fãs do género. Uma história de fantasmas que consegue meter medo! Classificação: 8


VILLMARK ASYLUM de Pål Øie – Um pequeno grupo é encarregado de inspecionar um velho e degradado sanatório, que fica isolado no meio de uma floresta, com o fim de este poder vir a ser demolido. Não vi o primeiro filme desta série, pelo que não posso fazer comparações, mas pareceu-me que esta história vive por si. Como devem calcular, o sanatório não está propriamente desabitado e algo de terrível vive nos seus corredores, com alguns bons resultados e um imaginário por vezes interessante. Classificação: 4



THE WAILING (Goksung) de Na Hong-jin – Numa aldeia, uma série de comportamentos estranhos seguidos de crimes violentos leva a população a desconfiar de um estranho que acabou de chegar. Cabe a um policia, cuja filha adoece com estranhos sintomas, tentar desvendar o mistério e assim salvar a sua filha. Tenho que confessar que não percebi muito bem o que se passa nesta mistura surreal/cómica do EXORCISTA com “zombies” e demónios. Para começar achei o filme demasiado longo e chato; achei as personagens um bocado estúpidas, mas imagino que isso seja propositado. O filme tem recebido boas críticas e muitos prémios, mas a mim passou-me ao lado ou então estava em dia não quando o vi. Classificação: 3




THE WAVE (Bolgen) de Roar Uthaug – O meu filme preferido da seleção de 2016, não é de terror, mas sim o melhor filme-catástrofe que vi desde de A TORRE DO INFERNO. Sobre este filme escrevi uma “crítica” mais detalhada, que podem ler clicando aqui. Classificação: 8

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